<$BlogRSDUrl$>

Tuesday, December 09, 2003

Então eu fui roubada. É, depois de 19 anos (ou seja, toda a minha vida) vivendo no Rio de Janeiro, fui roubada pela primeira vez. Ok, até que demorou. Mas foi um roubo tão bobo, tão "sem glamour", tão besta, que nem deu pra ficar muito brava ou coisa assim. Não deu pra fazer altas considerações sobre a violência na cidade, e a falta segurança, e como é absurda essa condição em que vivemos e blá, blá, blá. Nem assalto foi. E eu fui tão besta quanto o roubo. É, eu mereci esse roubo de meia tigela. Vamos à  cena.
Primeiro, o ônibus escolhido: 592. Para quem conhece, sabe o quão odiosa é essa linha, tendo sido carinhosamente apelidada de "cinco never dois". Pois é, esse ônibus é o mais demorado da história. Pois ontem foi o primeiro que passou na minha frente. Eu poderia pegar qualquer um. Eu repito: qualquer um. Mas ainda assim me decidi pelo dito cujo. Essa atitude é justificada pela satisfação que sinto em não depender mais dessa linha maldita. Então sempre que posso, eu o pego e fico pensando: estou apenas te usando, mas não preciso de você! É uma sensação ótima. Enfim, eu olho para o ônibus. É dos antigos, com a entrada pela parte de trás. Já simpatizei com ele. Lá dentro, uma pessoa está abaixada na roleta, catando alguma coisa do chão. Enquanto isso, outra está plantada na porta do ônibus, sem se mover. Cena estranha, não? Pois é, eu também achei, mas ainda assim entrei. Talvez o fato de a pessoa plantada na porta ter dito "pode entrar" tenha me ajudado na hora de tomar essa decisão. Não sei como não desconfiei de tamanha gentileza. Entrei no ônibus, mas não conseguia passar pela roleta porque a pessoa continuava abaixada, catando as tais coisas, e também não podia sair porque o outro ser plantado na porta não saia de lá. Além disso, o ônibus começou a andar de porta aberta mesmo. Tudo muito estranho. E foi muito rápido também. Até que finalmente a pessoa pára de catar suas coisas e passa pela roleta. Passo também e percebo que a minha bolsa está aberta. "Ok, meu celular já era", foi a primeira coisa que pensei. Mas não, lá estava ele, são e salvo. O mesmo eu não podia dizer da minha querida e velha de guerra bolsinha de moedas. De moedas, mas que tinha 15 reais em dinheiro. Quando percebi que minha bolsinha não estava lá, lancei meu olhar mais desconfiado para as duas pessoas que me atrapalharam na entrada do ônibus. Até que um deles fala que foi roubado, que pegaram a carteira dele. É, sei. Pensei em acusá-lo, em dizer: "devolve a minha bolsinha, pára de fingimento! Eu sei que foi você, deixa de ser ator!", estava tudo na minha cabeça, prontinho para sair. E eu estava bem brava no meu pensamento. Mas na verdade, não sei porque, não estava tão brava e não acusei ninguém. Primeiro porque não tinha certeza, a bolsinha poderia ter caí­do na rua, ou eu poderia ter esquecido em casa. Além disso, antes de entrar no ônibus, uma outra pessoa me empurrou, fez menção de entrar no ônibus e não entrou. Portanto, poderia ter sido essa a pessoa quem me roubou.
Pequeno parentese: eu não lembrava dessa outra pessoa, só lembrei agora, escrevendo sobre o assunto. O que só reforça o que disse no post anterior.
Sentei me no ônibus, pensando que tinha perdido meu dinheirinho, e que não ia poder tirar a xérox que eu estava indo tirar. Pensei também que poderia ser pior, afinal não levaram o celular. E eu morava perto, podia voltar para casa a pé. Realmente tinha sido uma decisão acertada ter tirado aquela nota de vinte reais de dentro da bolsinha antes de sair de casa. Já a idéia de ser organizada e colocar aquela outra nota de dez reais, que estava no meu bolso, dentro da bendita bolsinha não tinha sido tão boa...

***

Nesse mesmo dia, mais à noite, saindo para ir no curso de espanhol, vejo um aglomerado de gente. Depois, comentários soltos na rua: "...tiroteio... morreu o que estava na moto... ele saiu atirando..." entre outros. Depois fico sabendo que houve realmente um tiroteio e que uma pessoa morreu na rua do meu curso, minutos antes de eu passar por lá. E toda aquela gente estava ali para ver o cadáver. Sempre junta um montão de gente em volta de cadáveres nas ruas. Mania estranha essa.
É isso aí, dia estranho. Pelo menos pra mim.
E o Rio de Janeiro continua lindo...


E a sua pessoa?
Comments: Post a Comment

This page is powered by Blogger. Isn't yours?